Venho aqui falar pra você, que assim como eu, está com o choro entalado na garganta.
O choro que ninguém, ninguém mesmo vai entender.
Venho aqui te convidar a contar sua
história, essa aí, que está aí na sua memória por mais tempo que tenha
passado e que te machuca e te faz sentir o peito apertar e o ar faltar.
A história que você não sabe se poderia ter tido um final diferente se você tivesse feito outras escolhas.
Venho aqui te convidar a viver o luto
pelo que não aconteceu, pelo que aconteceu. Viver o luto desse
sentimento que nem você mesma entende o porquê te sufoca tanto.
Permita-se chorar. Permita-se viver o
luto. Não é só a morte física que dói, que traz saudades. A morte de um
ideal, de um sonho, de um relacionamento. De um bebê que não vingou, ou
que ao invés de estar nos seus braços está na UTI. De um parto que não
pariu, de uma amamentação que não aleitou. Dói ainda mais, porque
continuamos a viver aqui, de pé e a vida continua como que ignorando a
nossa dor. E todos à nossa volta ignoram essa dor.
Permita-se chorar pela sua própria
morte. Estou falando do puerpério. Esse país de língua desconhecida,
paisagens bucólicas e melodia forte. Sim, você morreu. E renasceu como
uma outra mulher. Mãe. Morreu e nasceu como mãe de dois, de três, de
quatro ou mais? Não importa. A morte aconteceu. E quem está ao seu redor
não consegue perceber que você morreu.
Permita-se chorar. E falar sobre os
sentimentos emaranhados. Procure a pontinha desse nó de sentimentos e
delicadamente puxe. Devagar. Olhe. Olhe para si. No espelho. E procure
aquela mulher que você era antes de sua própria morte. E despeça-se
dela. Conecte-se com a mulher que você é agora. Acolha-se.
Sim, antes de sua morte você era uma
mulher forte. Mas essa mulher morreu e ninguém consegue entender a
fragilidade que nasceu com essa nova mulher. Fragilidade que vai
perpetuar por algum tempo. E que precisa de cuidado. Quanto tempo? O
necessário para essa fragilidade ser notada, cuidada e acolhida.
Permita-se chorar. Permita-se mostrar seu
novo eu. Permita-se. Esqueça a mulher forte e empoderada e entregue-se a
esse luto. Do que você não viveu.
Permita-se contar sobre o seu luto. Sem
medo de ser julgada. Sem medo de ser incompreendida. Sim, não seremos
compreendidas, mas isso não importa. Permita-se fortalecer a partir do
choro e do grito. Da lágrima. Da palavra. Da reconstrução.
Nenhum comentário:
Postar um comentário