As mulheres com plano de saúde ajudam a elevar o índice de cesáreas
no Brasil. O país tem uma das maiores taxas de parto cesariano do
mundo, com atualmente 45%. Enquanto no Sistema Único de Saúde (SUS) 40%
dos nascimentos são via cesáreas, na saúde suplementar este índice mais
do que dobra, chegando a 90%.
Desde
2005, quando se descobriu que as mulheres com plano de saúde em quase
sua totalidade faziam cesarianas, o governo federal e as entidades
médicas se uniram para pressionar as operadoras a reduzir as taxas.
Passados seis anos, pouca coisa mudou e, o pior, o Brasil até agora não
sabe ao certo em qual frente deve trabalhar para reverter a situação, já
que os fatores de escolha pela cesárea são múltiplos.
A ideia de que parto era algo para ser feito nos hospitais foi
copiada dos Estados Unidos, mas lá as taxas de cesarianas chegam a 27%,
bem inferiores ao Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere
uma taxa de parto cesáreo de 25% para cada país. Com o intuito de acabar
com as altas taxas, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e outras entidades médicas
fizeram uma pesquisa com 3 mil médicos para tentar mapear as motivações
pela escolha da cesariana e, assim, combatê-las. A pesquisa só será
divulgada em novembro, mas, em entrevista, as entidades já adiantam
alguns fatores observados.
Motivos
A questão mais óbvia desta diferença é que as atendidas pelos planos
de saúde podem escolher livremente o parto que querem ter, e elas
preferem o cesáreo por diversos fatores: pela comodidade, pela falsa
ideia de que dói menos (na verdade, a recuperação da cesariana é bem
mais dolorida), por medo de o parto normal machucar o bebê (se for feito
corretamente, é inverídico) e, atualmente, pela violência urbana e a
possibilidade de não haver vagas nas maternidades.
“Nas grandes cidades, mulheres e médicos têm preferido marcar a
cesárea para evitar a surpresa de um parto normal na madrugada,
colocando em risco o médico, a parturiente e o bebê, pois podem ser
assaltados no trajeto até a maternidade”, explica a médica Lucila
Nagata, membro da comissão de mortalidade materna da Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Além disso, o agendamento acaba sendo a garantia de que a mulher vai ter
o filho no lugar escolhido previamente.
Indução
A grande reclamação das mulheres, porém, é de que os médicos
induzem ao parto cesáreo. Elas dizem que os médicos fazem isso devido à
cesariana ser mais cômoda para eles, afinal, este parto dura cerca de
duas horas enquanto um parto normal pode durar 12 horas.
“Sempre quis ter normal, cheguei a entrar em trabalho de parto e o
médico, no hospital, me disse que eu não tinha dilatação. Ele me pegou
em um momento de fragilidade e afirmou que teria de ser cesárea pelo bem
do bebê. Acabei cedendo, mas foi frustrante”, afirma a farmacêutica
Halline Queiroz, que tem duas meninas, a Julia e a Laura.
A Julia nasceu de cesariana e a Laura de parto normal. “Na
segunda vez, mudei de médico e ele me provou que o parto normal era
possível. Ele derrubou o mito de que mulher que tem o primeiro filho de
cesárea vai ter de fazer cesariana sempre”, conta.
Prematuridade aumenta e bebês vão para UTIs
O problema da escolha pela cesariana é cultural, segundo a
gerente-geral de regulação assistencial da Agência Nacional de Saúde
Suplementar, Marta Oliveira. Para ela, não basta pressionar os planos de
saúde para reduzir as taxas, “a mulher precisa aceitar o parto normal.”
Marta chama a atenção para o fato de as cesarianas serem
literalmente agendadas, ou seja, a mulher nem chega a entrar em trabalho
de parto e o bebê, por isso, acaba nascendo imaturo (com o pulmão ainda
com líquido). “Se tivéssemos 90% de partos cesáreos e estivesse tudo
bem, sem problemas. A questão é que temos a prematuridade aumentando e
muitos bebês ficando em UTIs. Este tipo de consequência nos preocupa”,
diz.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1180770
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