E você, sabe o que é um parto humanizado?!
"Temos ouvido muito falar sobre parto humanizado. No
youtube os vídeos de parto se multiplicam, os programas de televisão
trazem o tema, as vezes a favor, as vezes contra. Surgiram politicas
publicas incentivando o tal parto humanizado. Até um documentário, “O
Renascimento do Parto”, foi exibido em cinemas de todo o Brasil no ano
passado. Porém, não está bem claro o que é essa “modalidade” de parto.
Mas antes de dizer o que é a humanização da assistência ao parto vamos
primeiro esclarecer o que ela não é!
A humanização do parto NÃO é:
- Modinha, tão pouco algo novo.
- Sinônimo de parto normal.
- Forçar um parto vaginal de qualquer jeito, mesmo tendo riscos para mãe e bebê.
- Parto domiciliar, parto na água, parto de cócoras, mesmo que esses tipos de parto sejam geralmente humanizados.
- Desligar a luz da sala de parto, acender velas e
colocar música ambiente, mesmo que isso também possa fazer parte do
parto humanizado.
- Coisa de hippie, vegetarianos e yogues ou membros de alguma seita.
- Coisa de gente ignorante que não reconhece a importância dos avanços científicos.
- Coisa de atrizes e gente rica
A medicalização do parto, no seu inicio, tinha uma
grande missão, que era diminuir a morbidade e a mortalidade materna e
fetal, na época era mais seguro parir no hospital, já que não existia um
acompanhamento pré-natal de qualidade e o resultado da gestação era
sempre uma surpresa. Porém, hoje essa medicalização chegou a um ponto
insustentável, não se usa mais as intervenções de forma coerente, sendo
um pacote básico usado para praticamente todas as parturientes.
A humanização do parto surge como um resgate ao parto
fisiológico e livre de intervenções desnecessárias, que prejudicam o
parto e muitas vezes tornam a experiência de parturição traumática.
A humanização da assistência ao parto segue a medicina
baseada em evidências científicas, diferentemente do atendimento
obstétrico dito “normal”. Parece incoerente, porém o modelo obstétrico
vigente nas maternidades brasileiras é baseado em achismos, em
repetições, e infelizmente em comodidade. Nas ultimas décadas muitas
pesquisas foram publicadas comprovando os benefícios do parto humanizado
e os prejuízos do parto medicalizado. Evidências científicas não
faltam, o que falta é boa vontade e coragem para mudar esse quadro.
Enquanto a obstetrícia medicalizada foca o parto na
figura do médico o parto humanizado foca na mulher e no bebê. Isso
significa que a mulher será respeitada em sua autonomia, seu
protagonismo é incentivado e seus desejos e vontades serão considerados,
desde que isso não cause prejuízos para ela e para o bebê. As
intervenções são destinadas apenas para casos em que sejam necessárias,
já que essas intervenções quando usadas sem critérios podem causar
iatrogenias.
A mulher é olhada individualmente, como um ser humano e
não como mais uma paciente. Não é usado métodos para acelerar o parto,
visto que esses aumentam o risco de um desfecho desfavorável e aumentam
significativamente a dor do trabalho de parto. Dentre os métodos para
acelerar o parto o mais usado é a ocitocina, seguida de ruptura
artificial da membrana amniótica. Ambos métodos possuem riscos
significativos para mãe e bebê e só devem ser usados para corrigir
partos disfuncionais, no entando, esses procedimentos são usados como
rotina no parto medicalizado. O uso de uma intervenção, se bem indicada,
não significa que o parto não é humanizado, pelo contrário, a
humanização do parto está justamente em ter bom senso. Agir quando
preciso e não de forma aleatória sem critério.
No parto humanizado, tudo que pode interferir no
processo natural do parto é abolido ou evitado. O ambiente ganha um
papel muito importante, visto que um ambiente em que a mulher se sente
segura e acolhida facilita a evolução do trabalho de parto. Muitas vezes
esse lugar é o domicílio, e vem dai a ideia de que parto humanizado é
sinônimo de parto domiciliar. O parto domiciliar planejado, para
mulheres de gestação de baixo risco, é tão seguro quanto o parto normal
hospitalar, mas proporciona a mulher uma experiência de parto mais
plena. Em casa a mulher está em um ambiente bem conhecido, cercada de
pessoas de confiança, familiares e profissionais, e seus desejos são
respeitados. Se ela escolhe parir no meio da sala, a luz de velas,
escutando mantras ao lado do seu animal de estimação, assim ela parirá! A
escolha do local de parto é um direito reprodutivo, e deve ser
respeitado. Porém, nem todas as mulheres que decidem pelo parto
domiciliar estão buscando uma experiência “mística”, muitas escolhem o
domicilio como alternativa a fugir da violência obstétrica, tão
difundida em nossas maternidades. Por isso podemos afirmar que o parto
domiciliar é um parto humanizado, mas nem todo parto humanizado é
domiciliar. Seguindo por essa lógica, onde a mulher deve parir onde se
sentir mais segura, muitas vezes o parto hospitalar ou em casa de parto
(infelizmente existe poucas casas de parto no Brasil) é a escolha das
mulheres, e de fato a grande maioria das mulheres preferem parir no
hospital. O grande desafio está em transformar os partos hospitalares em
partos humanizados, minimizando os fatores que transformam esse
ambiente em um lugar hostil e assim aumentando as chances de um parto
prazeroso e não traumático. Em primeiro lugar, os profissionais que
assistem ao parto devem se manter atualizados, isso significa estarem
atentos às pesquisas cientificas que desmistificam e desaconselham, com
justificativas muito pertinentes, os procedimentos de rotina realizados
no parto. Evitando assim, intervenções desnecessárias, como uso
rotineiro de soroterapia, ocitocina sintética, enema, tricotomia,
restrição ao leito, jejum, monitoramento fetal contínuo, rompimento
artificial da membrana amniótica, toques vaginais repetitivos e
dolorosos, redução manual do colo uterino, manipulação do períneo perto
do período expulsivo (tentativa de distendê-lo), manobra de valsalva,
obrigatoriedade da posição de litotomia no momento expulsivo, analgesia
sem pedido da parturiente, episiotomia, toque retal, reparo de
lacerações sem anestesia local, separação de mãe e bebê saudáveis, ar
condicionado muito frio em sala de parto, luz forte no momento do
nascimento (agressivo aos olhos do recém-nascido), procedimentos
neonatais de rotina, como secagem agressiva, retirada do vernex caseoso,
aspiração de vias aéreas, aspiração de conteúdo gástrico, colírio a
base de nitrato de prata, período de observação longe da mãe...
Muitas pesquisas já relataram os benefícios das Casas
de Parto em relação as maternidades padrão, e da assistência realizada
por enfermeiras obstetras ou obstetrizes, em relação a assistência
realizada por médicos obstetras. Em muitos países ditos de primeiro
mundo, onde a mortalidade materna e neonatal são baixíssimas, esse é o
modelo mais usado. Aos médicos fica reservado o atendimento a gestações
de alto risco e a partos identificados com distócias.
Além disso, o atendimento deve ser baseado na empatia,
e empatia não significa sorrir e chamar a paciente de “mãezinha”,
significa sim colocar-se no lugar do outro, entender que estar com dor,
medo e vergonha, seminua, em um ambiente estranho, cercada de pessoas
estranhas causa efeitos psicológicos suficientes para transformar o
parto em um momento desagradável. Para minimizar a dor deve-se oferecer
métodos não farmacológicos para o alívio da dor, como banho de chuveiro
ou de imersão, massagem da região lombar, uso da bola obstétrica (bola
de pilates), estimular a livre movimentação e deambulação. É muito
importante que se ofereça líquidos e alimentos de fácil digestão (água,
sucos, chás, gelatina, caldos), pois não há nenhuma justificativa
plausível para o jejum, e o trabalho de parto pode ser longo e
cansativo, fome e sede não ajudará em nada. As manifestações verbais,
como gritos, vocalizações, gemidos, canto, rezas, não devem ser
reprimidas, e de forma alguma deve-se falar em tom alto e ameaçador.
Nenhum procedimento deve ser feito sem antes ser explicado à parturiente
e ao seu acompanhante a sua necessidade, devendo sempre ser permitido
antes de ser realizado. A presença de um acompanhante escolhido pela
mulher é garantido por lei, não cabe ao médico obstetra, ao enfermeiro,
ao médico anestesista, ao médico pediatra e a ninguém decidir que a
paciente não terá direito de ser acompanhada.
Resumindo, não há nada de misterioso no parto
humanizado, apenas deixe as coisas acontecerem naturalmente, dê apoio à
mulher e sua família, trate com respeito mãe e bebê e não faça nada que
não seja realmente necessário!"
Texto retirado do blog da parteira/EO Luana Santos: http://partejarconsciente.blogspot.com.br/search/label/Parto%20humanizado
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