26 de setembro de 2014

Ahhh o puerpério...

Venho aqui falar pra você, que assim como eu, está com o choro entalado na garganta.
O choro que ninguém, ninguém mesmo vai entender.
Venho aqui te convidar a contar sua história, essa aí, que está aí na sua memória por mais tempo que tenha passado e que te machuca e te faz sentir o peito apertar e o ar faltar.
A história que você não sabe se poderia ter tido um final diferente se você tivesse feito outras escolhas.
Venho aqui te convidar a viver o luto pelo que não aconteceu, pelo que aconteceu. Viver o luto desse sentimento que nem você mesma entende o porquê te sufoca tanto.
Permita-se chorar. Permita-se viver o luto. Não é só a morte física que dói, que traz saudades. A morte de um ideal, de um sonho, de um relacionamento. De um bebê que não vingou, ou que ao invés de estar nos seus braços está na UTI. De um parto que não pariu, de uma amamentação que não aleitou. Dói  ainda mais, porque continuamos a viver aqui, de pé e a vida continua como que ignorando a nossa dor. E todos à nossa volta ignoram essa dor.
Permita-se chorar pela sua própria  morte. Estou falando do puerpério. Esse país de língua desconhecida, paisagens bucólicas e melodia forte. Sim, você morreu. E renasceu como uma outra mulher. Mãe. Morreu e nasceu como mãe de dois, de três, de quatro ou mais? Não importa. A morte aconteceu. E quem está ao seu redor não consegue perceber que você morreu.
Permita-se chorar. E falar sobre os sentimentos emaranhados. Procure a pontinha desse nó de sentimentos e delicadamente puxe. Devagar. Olhe. Olhe para si. No espelho. E procure aquela mulher que você era antes de sua própria morte. E despeça-se dela. Conecte-se com a mulher que você é agora. Acolha-se.
Sim, antes de sua morte você era uma mulher forte. Mas essa mulher morreu e ninguém consegue entender a fragilidade que nasceu com essa nova mulher. Fragilidade que vai perpetuar por algum tempo. E que precisa de cuidado. Quanto tempo? O necessário para essa fragilidade ser notada, cuidada e acolhida.
Permita-se chorar. Permita-se mostrar seu novo eu. Permita-se. Esqueça a mulher forte e empoderada e entregue-se a esse luto. Do que você não viveu.
Permita-se contar sobre o seu luto. Sem medo de ser julgada. Sem medo de ser incompreendida. Sim, não seremos compreendidas, mas isso não importa. Permita-se fortalecer a partir do choro e do grito. Da lágrima. Da palavra. Da reconstrução.

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