24 de setembro de 2014

Parto Humanizado - o que é?!

E você, sabe o que é um parto humanizado?!

"Temos ouvido muito falar sobre parto humanizado. No youtube os vídeos de parto se multiplicam, os programas de televisão trazem o tema, as vezes a favor, as vezes contra. Surgiram politicas publicas incentivando o tal parto humanizado. Até um documentário, “O Renascimento do Parto”, foi exibido em cinemas de todo o Brasil no ano passado. Porém, não está bem claro o que é essa “modalidade” de parto. Mas antes de dizer o que é a humanização da assistência ao parto vamos primeiro esclarecer o que ela não é!

A humanização do parto NÃO é:                                          

- Modinha, tão pouco algo novo.
- Sinônimo de parto normal. 
- Forçar um parto vaginal de qualquer jeito, mesmo tendo riscos para mãe e bebê.
- Parto domiciliar, parto na água, parto de cócoras, mesmo que esses tipos de parto sejam geralmente humanizados.
- Desligar a luz da sala de parto, acender velas e colocar música ambiente, mesmo que isso também possa fazer parte do parto humanizado.
- Coisa de hippie, vegetarianos e yogues ou membros de alguma seita.
- Coisa de gente ignorante que não reconhece a importância dos avanços científicos.
- Coisa de atrizes e gente rica 

A medicalização do parto, no seu inicio, tinha uma grande missão, que era diminuir a morbidade e a mortalidade materna e fetal, na época era mais seguro parir no hospital, já que não existia um acompanhamento pré-natal de qualidade e o resultado da gestação era sempre uma surpresa. Porém, hoje essa medicalização chegou a um ponto insustentável, não se usa mais as intervenções de forma coerente, sendo um pacote básico usado para praticamente todas as parturientes.



A humanização do parto surge como um resgate ao parto fisiológico e livre de intervenções desnecessárias, que prejudicam o parto e muitas vezes tornam a experiência de parturição traumática. 

A humanização da assistência ao parto segue a medicina baseada em evidências científicas, diferentemente do atendimento obstétrico dito “normal”. Parece incoerente, porém o modelo obstétrico vigente nas maternidades brasileiras é baseado em achismos, em repetições, e infelizmente em comodidade. Nas ultimas décadas muitas pesquisas foram publicadas comprovando os benefícios do parto humanizado e os prejuízos do parto medicalizado. Evidências científicas não faltam, o que falta é boa vontade e coragem para mudar esse quadro.
Enquanto a obstetrícia medicalizada foca o parto na figura do médico o parto humanizado foca na mulher e no bebê. Isso significa que a mulher será respeitada em sua autonomia, seu protagonismo é incentivado e seus desejos e vontades serão considerados, desde que isso não cause prejuízos para ela e para o bebê. As intervenções são destinadas apenas para casos em que sejam necessárias, já que essas intervenções quando usadas sem critérios podem causar iatrogenias.

A mulher é olhada individualmente, como um ser humano e não como mais uma paciente. Não é usado métodos para acelerar o parto, visto que esses aumentam o risco de um desfecho desfavorável e aumentam significativamente a dor do trabalho de parto. Dentre os métodos para acelerar o parto o mais usado é a ocitocina, seguida de ruptura artificial da membrana amniótica. Ambos métodos possuem riscos significativos para mãe e bebê e só devem ser usados para corrigir partos disfuncionais, no entando, esses procedimentos são usados como rotina no parto medicalizado. O uso de uma intervenção, se bem indicada, não significa que o parto não é humanizado, pelo contrário, a humanização do parto está justamente em ter bom senso. Agir quando preciso e não de forma aleatória sem critério.
No parto humanizado, tudo que pode interferir no processo natural do parto é abolido ou evitado. O ambiente ganha um papel muito importante, visto que um ambiente em que a mulher se sente segura e acolhida facilita a evolução do trabalho de parto. Muitas vezes esse lugar é o domicílio, e vem dai a ideia de que parto humanizado é sinônimo de parto domiciliar. O parto domiciliar planejado, para mulheres de gestação de baixo risco, é tão seguro quanto o parto normal hospitalar, mas proporciona a mulher uma experiência de parto mais plena. Em casa a mulher está em um ambiente bem conhecido, cercada de pessoas de confiança, familiares e profissionais, e seus desejos são respeitados. Se ela escolhe parir no meio da sala, a luz de velas, escutando mantras ao lado do seu animal de estimação, assim ela parirá! A escolha do local de parto é um direito reprodutivo, e deve ser respeitado. Porém, nem todas as mulheres que decidem pelo parto domiciliar estão buscando uma experiência “mística”, muitas escolhem o domicilio como alternativa a fugir da violência obstétrica, tão difundida em nossas maternidades. Por isso podemos afirmar que o parto domiciliar é um parto humanizado, mas nem todo parto humanizado é domiciliar. Seguindo por essa lógica, onde a mulher deve parir onde se sentir mais segura, muitas vezes o parto hospitalar ou em casa de parto (infelizmente existe poucas casas de parto no Brasil) é a escolha das mulheres, e de fato a grande maioria das mulheres preferem parir no hospital. O grande desafio está em transformar os partos hospitalares em partos humanizados, minimizando os fatores que transformam esse ambiente em um lugar hostil e assim aumentando as chances de um parto prazeroso e não traumático. Em primeiro lugar, os profissionais que assistem ao parto devem se manter atualizados, isso significa estarem atentos às pesquisas cientificas que desmistificam e desaconselham, com justificativas muito pertinentes, os procedimentos de rotina realizados no parto. Evitando assim, intervenções desnecessárias, como uso rotineiro de soroterapia, ocitocina sintética, enema, tricotomia, restrição ao leito, jejum, monitoramento fetal contínuo, rompimento artificial da membrana amniótica, toques vaginais repetitivos e dolorosos, redução manual do colo uterino, manipulação do períneo perto do período expulsivo (tentativa de distendê-lo), manobra de valsalva, obrigatoriedade da posição de litotomia no momento expulsivo, analgesia sem pedido da parturiente, episiotomia, toque retal, reparo de lacerações sem anestesia local, separação de mãe e bebê saudáveis, ar condicionado muito frio em sala de parto, luz forte no momento do nascimento (agressivo aos olhos do recém-nascido), procedimentos neonatais de rotina, como secagem agressiva, retirada do vernex caseoso, aspiração de vias aéreas, aspiração de conteúdo gástrico, colírio a base de nitrato de prata, período de observação longe da mãe...

Muitas pesquisas já relataram os benefícios das Casas de Parto em relação as maternidades padrão, e da assistência realizada por enfermeiras obstetras ou obstetrizes, em relação a assistência realizada por médicos obstetras. Em muitos países ditos de primeiro mundo, onde a mortalidade materna e neonatal são baixíssimas, esse é o modelo mais usado. Aos médicos fica reservado o atendimento a gestações de alto risco e a partos identificados com distócias.
Além disso, o atendimento deve ser baseado na empatia, e empatia não significa sorrir e chamar a paciente de “mãezinha”, significa sim colocar-se no lugar do outro, entender que estar com dor, medo e vergonha, seminua, em um ambiente estranho, cercada de pessoas estranhas causa efeitos psicológicos suficientes para transformar o parto em um momento desagradável. Para minimizar a dor deve-se oferecer métodos não farmacológicos para o alívio da dor, como banho de chuveiro ou de imersão, massagem da região lombar, uso da bola obstétrica (bola de pilates), estimular a livre movimentação e deambulação. É muito importante que se ofereça líquidos e alimentos de fácil digestão (água, sucos, chás, gelatina, caldos), pois não há nenhuma justificativa plausível para o jejum, e o trabalho de parto pode ser longo e cansativo, fome e sede não ajudará em nada. As manifestações verbais, como gritos, vocalizações, gemidos, canto, rezas, não devem ser reprimidas, e de forma alguma deve-se falar em tom alto e ameaçador. Nenhum procedimento deve ser feito sem antes ser explicado à parturiente e ao seu acompanhante a sua necessidade, devendo sempre ser permitido antes de ser realizado. A presença de um acompanhante escolhido pela mulher é garantido por lei, não cabe ao médico obstetra, ao enfermeiro, ao médico anestesista, ao médico pediatra e a ninguém decidir que a paciente não terá direito de ser acompanhada.
Resumindo, não há nada de misterioso no parto humanizado, apenas deixe as coisas acontecerem naturalmente, dê apoio à mulher e sua família, trate com respeito mãe e bebê e não faça nada que não seja realmente necessário!"

Texto retirado do blog da parteira/EO Luana Santos: http://partejarconsciente.blogspot.com.br/search/label/Parto%20humanizado

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