26 de setembro de 2014

Uma linda lua de leite pra você!!



“Uma linda lua de leite para vocês”. Via de regra, esse é o meu desejo a toda mãe recém-parida. Mas acho que poucos entendem o que estou desejando (né?). Então, aproveitando o embalo de um post que estou escrevendo sobre o puerpério, resolvi falar um pouco sobre essa ideia e “vender o peixe” da lua de leite.
A função da lua de leite é simples: fortalecer o vínculo e minimizar o estresse. Da mesma forma que a lua de mel servia (serve ainda?) um propósito de iniciar o casal na vida a dois, afastando os dois das tarefas do dia-a-dia para que entrassem em sintonia um com o outro, a lua de leite cria um espaço para o casal (e eventualmente os irmãos mais velhos) se vincular(em) e ganhar(em) intimidade com o novo ser que chegou para compor a família. Para não me estender muito (mais do que o necessário), vou tentar ser didática, para que ninguém fique achando que lua de leite é sinônimo de levar o pequerrucho para Aruba ou Paris!

O que é, exatamente, uma lua de leite?
Trata-se de um período para viver intensamente a vinculação com o bebê, minimizando as atividades mundanas (sair, cozinhar, limpar a casa, socializar) e o contato com o mundo e o tempo “real”. A lua de leite envolve muito contato pele a pele entre o bebê e a mãe (e o pai), pouca atividade física e mental, e, claro, bastante leite materno, pois marca o início dessa relação que é amamentar. Como numa lua de mel, também convém esquecer o relógio e as rotinas para viver integralmente no presente.

Quanto tempo leva a lua de leite?
Não tem regra. Vai da necessidade e do perfil de cada família. Entre duas e quatro semanas me parece um bom ponto de partida.

Qual o sentido da lua de leite?
Ao diminuir as atividades supérfluas – isto é, tudo aquilo que não envolve atender às necessidades fisiológicas e emocionais do binômio mãe-bebê – a família vivencia esse início da relação com o filho de forma plena. A lua de leite libera a mulher da necessidade de entreter os outros, fazer comida ou arrumar a casa; no lugar disso, há repouso (na medida do possível), silêncio (idem), mergulho interior, contato verdadeiro. Essa intensidade também facilita o início do aleitamento: o contato pele a pele promove a liberação de ocitocina (hormônio do vínculo e da ejeção do leite), o peito em livre demanda (sem olhar a hora) aumenta a produção de leite, bem como a confiança e a habilidade da mãe, e o contato social reduzido diminui a chance de se expor a comentários que podem minar o processo delicado de amamentar. Como a lua de leite envolve se desligar um pouco do mundo externo, as pressões sociais são aliviadas, permitindo vivenciar a montanha-russa de emoções do puerpério sem a necessidade de se justificar nem fingir que tá tudo bem.


Isso significa que não devo receber visitas nem sair nesse período?
Não. Claro que não. Mas a ideia é sim reduzir as visitas e as saídas para diminuir as cobranças sociais. Para a visita, uma boa regra é: a pessoa em questão pode te ver descabelada, na cama, pelada da cintura para cima ou de roupão? Existe intimidade e boa vontade na relação, de forma que você pode ficar tranquila se, por acaso, der uma descompensada básica (leia-se: se você for grossa ou histérica, ou se simplesmente resolver expulsar todo mundo dali)? Se a resposta for “sim” então a visita não atrapalhará. Quanto a sair, se der vontade e não for uma obrigação, ou se for necessário por motivos de saúde, não vejo por que não.

Preciso me preparar ativamente para a lua de leite?
Sim. Salvo exceções, a sociedade hoje não está preparada para acolher as mães nesse período. Dois exemplos  claros são a prática de separar o bebê na maternidade, levando-o para o berçário, e a expectativa cultural de receber visitas imediatamente após o nascimento. Ou seja, se você e o seu companheiro não forem pró-ativos, seu puerpério seguirá o padrão da nossa sociedade: bebê separado de vocês na maternidade, colocado em berços, bebês confortos e embalados em cueiros e mantas (ao invés de em contato pele a pele) nos primeiros dias e semanas, rotinas de cuidados e mamadas com horários fixos, visitas cheias de para entreter, pitacos de parentes e amigos, tempo de conexão mãe-bebê diminuído devido à obrigação de realizar tarefas domésticas etc.


Como me preparo para a lua de leite?
Antes do nascimento:
  • deixe refeições congeladas ou organize-se para que você não tenha que pensar em preparar ou comprar comida;
  • mande um e-mail para  amigos e parentes explicando o desejo de ficar a sós com o bebê no período de x dias após o nascimento, explicando os motivos, se quiser (inspire-se no modelo abaixo);
  • combine com a equipe médica (incluindo o pediatra!) que você faz questão do contato pele a pele e da amamentação na primeira hora de vida (se precisar de respaldo, lhes envie este link);
  • crie ou fortaleça sua rede de apoio – isto é, aquelas pessoas próximas, que respeitam o seu desejo e entendem a delicadeza do pós-parto, com quem você poderá contar para ir ao mercado, passar na farmácia, limpar sua casa, e que também estejam dispostas a ouvir sem julgar, dar um ombro para você chorar e fazer carinho quando mais precisa.

Na maternidade:
  • fique em contato pele a pele com o bebê assim que ele nascer (antes de medir, pesar etc.);
  • permita que ele inicie a amamentação no tempo dele, antes de ser tirado do seu colo;
  • atrase o primeiro banho (acredite: o cheiro de um recém-nascido é algo que só pode ser comparado ao néctar dos deuses);
  • faça alojamento conjunto (i.e. evite o berçário);
  • deixe o seu companheiro/ acompanhante com a tarefa de ser o guardião da lua de leite – isto é, de proteger você e o bebê de serem separados, de evitar os protocolos do hospital que interferem na amamentação (complemento e bicos artificiais, por exemplo), de “barrar” visitas que não vão agregar.
Em casa:
  • fique peladona da cintura pra cima, com o bebê só de fralda ou pelado;
  • cheire a cria (lamber também vale!);
  • de novo, deixe o maridão ou outra pessoa da rede de apoio responsável por todo que envolve o mundo externo: telefonemas, tarefas domésticas, compras etc.
  • permita-se sentir, deixe as emoções fluirem;
  • tenha em mãos o telefone de uma doula pós-parto ou consultora de amamentação ou banco de leite, caso o bicho pegue;
  • confie… É punk, é enlouquecedor às vezes, mas é assim mesmo. Você sobreviverá.
Fonte:  http://amaequequeroser.wordpress.com/2014/07/02/lua-de-leite/

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