25 de setembro de 2014

Intervenções desnecessárias

Este é um exemplo de como começa a cadeia de intervenções desnecessárias na hora do parto que depois influenciam e prejudicam inclusive na amamentação. É importante conhecer cada tipo de intervenção e se informar sobre os riscos e como cada uma delas funciona pra que você possa entender e se necessário interrompe-las a tempo. Nos próximos posts começarei a entrar mais a fundo neste assunto.
Abaixo tem um texto com uma historia interessante sobre como isso pode acontecer.
[...] No hospital Marina é avaliada e com o exame de toque percebem que tem apenas 3 cm de dilatação. Mesmo sabendo que no hospital ela ficará mais desconfortável, já que é um ambiente inóspito, cheio de regras e correndo o risco de exposição a diferentes tipos de bactérias, o médico resolve internar a paciente. O marido concorda com o médico, porque já que não tem informações de como um trabalho de parto ocorre, sente se inseguro de voltar com a esposa para casa, e acha que o hospital é o melhor lugar para os dois. Se ele tivesse alguém apoiando, talvez sentisse seguro para esperar em casa, mas infelizmente não conhece o trabalho de doulas, obstetrizes ou enfermeiras obstetras.
Já internada no quarto do hospital Marina sente se fora de lugar. Não sabe o que fazer e como aparentemente precisa de cuidados médicos deita-se na cama. Deitada sente muito desconforto durante as contrações. O marido, sem apoio, não sabe como ajuda-la a aliviar a dor, já que não conhece procedimentos não farmacológicos de alivio da dor (como massagens, banheira, chuveiro, bola, compressas e outros). Marina não foi informada também de que ela pode caminhar no quarto e que pode procurar uma posição que lhe seja mais confortável durante as contrações. Não sabe que essas atitudes ajudariam a manter o ritmo do trabalho de parto e acaba ficando deitada e quieta. Como esta bem desconfortável chama as enfermeiras constantemente, que muitas vezes realizam exames de toque, desconfortáveis e desnecessários, onde constatam que a dilatação não evoluiu e que o bebê, apesar de estar na posição correta, ainda está muito alto.
Marina e o marido não sabem o que essas informações significam e ficam ainda mais ansiosos. Infelizmente ninguém contou a eles que os primeiros 5 cm de dilatação são bem lentos mesmo e por isso o melhor é esperar em casa. Ninguém explicou que o bebê só começa a descer depois que a mulher dilatou os 10 cm e ele ainda estar alto agora não significa que a mulher não tem passagem. Os dois também não sabem que o ambiente desconfortável e a ansiedade inibem a produção natural de Marina de ocitocina, o hormônio que estimula a dilatação do colo do útero e as contrações.
Finalmente, depois de umas 4 horas no hospital, Marina e o marido sem comer nada até então, estão no limite de sua ansiedade, e ficam felizes quando o médico vem com uma nova intervenção. Explica que é um “sorinho” que vai ajudar Marina. O médico que nunca parou para dar muitas informações ou explicações a paciente não acha que é necessário contar que naquele “sorinho”, além de hidratar Marina que estava em jejum e sem água até aquele momento (o que não seria necessário, mas acaba virando protocolo por comodidade dos hospitais que já preveem que a mulher terminara em uma cirurgia. E como um dos efeitos colaterais da anestesia é o vomito, melhor que esteja de barriga vazia), o soro também contém ocitocina artificial.
O uso da ocitocina artificial aumenta de repente a intensidade das contrações. Ficam mais longas e mais fortes de uma hora para outra. Com um intervalo entre elas que não da nem para respirar. Mariana permanece deitada, já que agora o soro na veia limita ainda mais seus movimentos. Como não conhece os métodos não farmacológicos para alívio da dor começa a pedir desesperadamente pela anestesia. A equipe de enfermagem a avalia e afirma que ela não pode receber a anestesia ainda. O marido fica revoltado, não entende porque ninguém da a anestesia para sua esposa, já que nenhum profissional de saúde parou para explicar a ele que existe um protocolo, que a anestesia só deve ser dada ao 8cm de dilatação, para não interromper a evolução do trabalho de parto. Sem nenhum suporte, a família ainda tem que ouvir comentários como "não precisa gritar, deixa de ser exagerada” ou "agora que já fez precisa aguentar a dor”.
Com as contrações em um ritmo muito maior do que o seu corpo estava preparado para aguentar, já que quem as comanda agora é a ocitocina artificial no soro e não a ocitocina que o proprio corpo produz, Marina começa a ter dificuldades para respirar. Não sabe se faz força, ou que horas fazer força, já que ninguém a orientou quanto a perceber o puxo, que é o seu próprio corpo indicando a hora de fazer força. Com a pouca oxigenação causada por essa situação promovida pelo uso da ocitocina artificial, os batimentos cardíacos do bebê começam a diminuir e a equipe medica constata isso na próxima ausculta.
Informam então ao marido que sua esposa precisa ir para o bloco cirúrgico. Que ela não tem dilatação (esquecem de dizer que já esta com cerca de 6cm e que desse ponto em diante, se respeitado o processo natural do trabalho de parto, a dilatação seria muita mais rápida) e afirmam por fim que o bebê já está em sofrimento. Com pavor de que algo aconteça com a mulher e o filho o marido concorda com a cesariana.
A mulher vai embora sozinha para o bloco, sem o seu acompanhante de sua escolha, e o marido fica para trás para se arrumar para o bloco. A equipe rapidamente se movimenta preparando a cirurgia sem muitas explicações ao casal. Enquanto a mulher toma a anestesia algumas pessoas da equipe oferecem palavras e conforto e o marido só entra novamente após a anestesia.
[...] Continua aqui : http://acalantobh.blogspot.com.br/2013/02/cadeia-de-intervencoes.html

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