26 de setembro de 2014

Nove em cada dez nascimentos no setor privado, são por cesáreas

As mulheres com plano de saúde ajudam a elevar o índice de cesáreas no Brasil. O país tem uma das maiores taxas de parto cesariano do mundo, com atualmente 45%. Enquanto no Sistema Único de Saúde (SUS) 40% dos nascimentos são via cesáreas, na saúde suplementar este índice mais do que dobra, chegando a 90%.
Desde 2005, quando se descobriu que as mulheres com plano de saúde em quase sua totalidade faziam cesarianas, o governo federal e as entidades médicas se uniram para pressionar as operadoras a reduzir as taxas. Passados seis anos, pouca coisa mudou e, o pior, o Brasil até agora não sabe ao certo em qual frente deve trabalhar para reverter a situação, já que os fatores de escolha pela cesárea são múltiplos.

A ideia de que parto era algo para ser feito nos hospitais foi copiada dos Estados Unidos, mas lá as taxas de cesarianas chegam a 27%, bem inferiores ao Brasil. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere uma taxa de parto cesáreo de 25% para cada país. Com o intuito de acabar com as altas taxas, o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febras­­go), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e outras entidades médicas fizeram uma pesquisa com 3 mil médicos para tentar mapear as motivações pela escolha da cesariana e, assim, combatê-las. A pesquisa só será divulgada em novembro, mas, em entrevista, as entidades já adiantam alguns fatores observados.
Motivos
A questão mais óbvia desta diferença é que as atendidas pelos planos de saúde podem escolher livremente o parto que querem ter, e elas preferem o cesáreo por diversos fatores: pela comodidade, pela falsa ideia de que dói menos (na verdade, a recuperação da cesariana é bem mais dolorida), por medo de o parto normal machucar o bebê (se for feito corretamente, é inverídico) e, atualmente, pela violência urbana e a possibilidade de não haver vagas nas maternidades.
“Nas grandes cidades, mulheres e médicos têm preferido marcar a cesárea para evitar a surpresa de um parto normal na madrugada, colocando em risco o médico, a parturiente e o bebê, pois podem ser assaltados no trajeto até a maternidade”, ex­­plica a médica Lucila Nagata, membro da comissão de mortalidade materna da Federação Brasileira das Associa­­ções de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Além disso, o agendamento acaba sendo a garantia de que a mulher vai ter o filho no lugar escolhido previamente.

Indução

A grande reclamação das mu­­­lheres, porém, é de que os médicos induzem ao parto cesáreo. Elas dizem que os médicos fazem isso devido à cesariana ser mais cômoda para eles, afinal, este parto dura cerca de duas horas enquanto um parto normal pode durar 12 horas.

“Sempre quis ter normal, cheguei a entrar em trabalho de parto e o médico, no hospital, me disse que eu não tinha dilatação. Ele me pegou em um momento de fragilidade e afirmou que teria de ser cesárea pelo bem do bebê. Acabei cedendo, mas foi frustrante”, afirma a farmacêutica Halline Queiroz, que tem duas meninas, a Julia e a Laura.

A Julia nasceu de cesariana e a Laura de parto normal. “Na segunda vez, mudei de médico e ele me provou que o parto normal era possível. Ele derrubou o mito de que mulher que tem o primeiro filho de cesárea vai ter de fazer cesariana sempre”, conta.

Prematuridade aumenta e bebês vão para UTIs

O problema da escolha pela cesariana é cultural, segundo a gerente-geral de regulação assistencial da Agência Nacional de Saúde Suplementar, Marta Oliveira. Para ela, não basta pressionar os planos de saúde para reduzir as taxas, “a mulher precisa aceitar o parto normal.”

Marta chama a atenção para o fato de as cesarianas serem literalmente agendadas, ou seja, a mulher nem chega a entrar em trabalho de parto e o bebê, por isso, acaba nascendo imaturo (com o pulmão ainda com líquido). “Se tivéssemos 90% de partos cesáreos e estivesse tudo bem, sem problemas. A questão é que temos a prematuridade aumentando e muitos bebês ficando em UTIs. Este tipo de consequência nos preocupa”, diz.

Fonte:  http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1180770

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